...:::::ELAS DIZEM::::....

Meninas, idéias e opiniões.

Friday, June 30, 2006

Meu caderno não tinha orelha.

Quando se é criança tudo o que acontece, por menor que seja, tem um impacto enorme na nossa vida. Desde a emoção de se ganhar exatamente o que se pediu de presente de natal, até a vergonha de levar um tombão na saída da escola. É assim que nascem os traumas. E aí vai a lista dos meus....

Traumas da minha infância

1. A mão direita é a mão que você usa pra escrever.
Jardim de infância. Hora de cantar o hino nacional. A professora diz pra colocar a mão direita no peito.
- Tia, qual é a mão direita ?
- É a mão que você segura o lápis.
- Mas tia, eu seguro o lápis com as duas mãos! (será que eu sou algum tipo de super criança?)
- É a mão que você usa pra escrever, Juju.
- Ah! - e colocava orgulhosa a mão esquerda no peito.
- Não Juju, é a outra mão - aí a Tia passava de amorosa para vaca-totalmente-sem-paciencia e colocava minha mão direita no peito.
Foi assim algumas vezes até eu repetir pra mim mesma que a tia não sabia nada. A mão direita é a mão onde eu tenho uma pintinha meio torta.

2. ...ponto final. Pula uma linha, parágrafo, travessão, letra maiúscula!
Essas malditas frases de professoras primarias sempre traumatizam. Essa frase, dita na hora do maltido ditado na 1ª série me deixou traumatizada porque apesar de repetir isso trocentas vezes em cada ditado, quando eu botava o ponto final na ultima linha de uma folha eu nunca sabia se tinha que pular uma linha antes de começar na outra folha. Mas minha dúvida não tinha resposta porque antes de pensar em perguntar alguma coisa eu ouvia "Fiquem quietos! Prestem atenção porque eu não vou repetir!!!" , e tinha rapidamente que resolver por mim mesma, sem saber se estava fazendo certo ou errado.

3. Mas eu não fiz nada!!!
Foi na 4ª série. Culpa do Guilherme que ficou enxendo o saco da professora. Na hora do recreio ela proibiu todo mundo de sair da sala. Justo no dia em que eu tinha levado dinheiro pra comprar lanche! Ah, eu comecei a chorar. Abri o maior berreiro mesmo! E a professora, coitada, ficou completamente sem graça de ver uma criança, assim, tão quietinha e comportada, fazer o maior escandalo, fez o que qualquer pessoa faria. Me mandou pra sala da diretora. Trauma.

4. Sua idiotaaaaaa!!!
Na 6ª série eu gostava do Gilberto. Ah, quando a gente é criança gosta de um monte de gente. Na aula de educação física nós jogamos futebol e eu fiquei no time dele. Numa sobra de bola, meio que como um milagre, ficaram eu, a boa e o gol, meio feito cena de filme. Eu chutei e a bola entrou. Saí correndo pra comemorar o gol com meus colegas de time e corri de braços abertos em direção ao Gilberto, e foi aí que eu vi ele gritando com a maior cara feia, me xingando de tudo quanto é nome. Eu havia feito gol contra. Trauma.

É isso. Todo trauma que vem depois da infância não conta, porque a gente já entende que provavelmente a situação foi causada por algum babaca. De qualquer forma, eu sempre me senti aliviada de não ter o trauma das orelhas de caderno. "Não escreve com o cotovelo em cima do caderno porque se não fica cheio de orelha!"
Meu caderno não tinha orelha, porque eu não escrevo com a mão que tem a pintinha torta.

Monday, June 19, 2006

Conversas de busão

"As transcrições das conversas aqui publicadas são baseadas em fatos reais. Experimente pegar 4 busões por dia pra ver se você também não pesca umas pérolas dessas."

(...)
- Meu, tu nem sabe...vô leva ela pro motel.
- Aquela lá?
- É po...Desse fim de semana não passa. Qual tu acha que eu devo levá?
- Aqui nessa rua alí tem um.
- Ah, sei. Mas não é muito sujo?
- É meio pulguento.
- Ah. Vai assim mesmo. Não vô gastá dinheiro com essa.
- Podes crer.
(...)


(...)
- Aí amigo motô, beleza?
- Ô! Quanto tempo!
- Tu não faz mais dobra não?
- Não po. To pra sair já. To com negócio próprio agora.
- Ah é?
- É. Segui conselho do cara que saiu também. Ele comprou 2 carrinhos de catar papelão. Trabalhava na folga e alugava o outro carrinho pra outro catador. Aí comprou mais 2 carrinhos pra alugar. Em 4 meses ele comprou casa e carro. Agora tem 10 carrinhos, todos alugados. E vive disso. Nem cata mais papelão. Só vive do aluguel dos outros catadores.
- Po. Vida boa e pobre então.
- Que nada. Carro novo, do ano. Maior sobradão ele construiu. E eu vou também. Não quero mais essa vida de dirigir onibus todo dia. Vô catá papelão.
(...)

- Alô. Oi amor. To indo pra casa. É...trabalhei até mais tarde hoje.... Pois é.... Mas amanhã eu te vejo...Também estou com saudades....Te amo também....Tá legal.... Tchau.
(...)
- Alô. Oi linda. Adorei também. É... Podia mesmo ser assim todo dia. É... Mas não posso ficar falando que trabalhei até tarde todo dia. Não dá né. Sei... Mas logo logo vou ter uma folga, aí digo que vou trabalhar e passo aí. É... tranquilo. Não pega nada não...
(...)

(...)
- Oi, você me dá licença?
- Tá.
- Você sabe onde fica a rua Alexandre Martins?
- Sei. É logo depois do canal 5.
- Ah. Eu vou descer lá. Tenho que visitar minha filha... minha neta está doente e eu não vejo eles ja faz um tempão. Porque meu marido ficou doente, e fica dificil eu sair de casa. Não gosto de sair sozinha, é muita violência. Eu vi ontem mesmo no jornal um assaltado de tarde. É fogo. Dá medo na gente sabe. Na minha época era muito mais tranquilo. Eu morava perto de onde passava o bonde e pegava ele para ir pra qualquer lugar. E ia tranquila. Mas agora tenho que pegar ônibus porque meu filho precisou do carro do meu marido e nós ficamos sem carro. Mas nem adianta porque meu marido não dirige mais. Então preciso ver minha filha, que mora longe ,de ônibus. Ela casou faz pouco tempo, mas a menina já tem 8 anos. Teve a menina antes de casar. Mas casou só por causa da menina. É bom. Melhor ter o pai perto. Você me avisa quando chegar ?
- Uhun.
- Ah, que bom, porque assim fico mais tranquila. Eu não sou muito boa para me achar nessas ruas e....
(...)

- Boa noite.
- (...) Boa noite.
- Eu não to fedendo né?
- Um pouco.
- Eu não acho. Eu sempre tive bom nariz.
- ....
- Olha só aquele cara de bicicleta.
- ....
- Ele vai ser assaltado. Quer ver?
- ....
- Eles sempre robam bicicleta. Robam antes mesmo de eu terminar de pagar a minha. Me levaram. É muito perigoso.... Você anda de moto ?
- É.
- Ah. Moto eles não robam. É muito pesada. Machuca se cair. Toma cuidado viu?
- Pode deixar.
- Toma mesmo. Eu tomei várias cervejas. Eu falei que ia pra casa. Mas tomei cerveja. Minha mulher vai brigar comigo. Eu to mesmo fedendo?
- Tá.
- Droga. Vou ter que dormir na rua. Que horas são?
- 9.
- Diacho. Eu pensei que era 4. Vou ter que dormir na rua.
(...)

O amor existe

Desde criança eu assisti muita televisão. Muita novela das 8. Muita cigana Dara sendo obrigada a casar com cigano Igor, e com isso acabei sendo condicionada a acreditar que o amor era uma coisa fictícia. Não existia o felizes para sempre. Não existia o amor além da vida. Com 14 anos eu acreditava que ia me divorciar aos 32 anos, descobrir que tinha cancer e morrer jovem. Porque a vida fazia mais sentido assim. Era assim que a televisão não mostrava, então era assim que devia ser. Sem falsas esperanças.

Meus avós se conheceram de maneira estranha. Muito cedo para ela, que só tinha 16 anos. Muito tarde para ele, que já era casado e tinha um filho. Ele, numa época em que isso não era comum, largou a mulher e o filho, virou a vida de cabeça para baixo e foi viver um sonho. Ela, passou os próximos cinquenta anos sendo dele. Tiveram 9 filhos. Apertaram daqui e dalí pra dar de comer a todos. Tiveram casa, cachorros, risos, choros. Não precisavam de mais. Ele aposentou. Deve ser muito dificil parar uma rotina de anos. Ele foi definhando aos poucos, sempre aos cuidados dela. Ele morreu dia 15 de maio. E com ele foi o chão que segurava ela. Ela morreu dia 15 de junho, mais de tristeza do que de doença. E os dois foram enterrados lado a lado.
Se isso não é amor, o que mais pode ser?

Wednesday, June 14, 2006

Fossa boa é fossa cantada!

Nesse universo capitalista onde somos condicionados a pensar que a vida é um grande filme hollywoodiano, não é a toa que as vezes nos pegamos pensando qual seria a trilha sonora ideal para certos momentos. O problema é que a maior parte das vezes, quando somos guiados pelas emoções, não conseguimos visualizar bem o objetivo da trilha e acabamos nos contentando com aquelas velhas coisas de sempre de novela das 8.
Um desses momentos é a classica "fossa". Seja ela causada por um relacionamento terminado, uma dor de cotovelo, ou simplesmente pela audácia do seu ex de anos atrá de desfilar com uma garota na sua frente. Tudo isso desencadeia sentimentos incontroláveis e possíveis lágrimas escapando pelo canto dos olhos. É da fossa também o título de musa de músicas bregas. Aliás, musa da maior parte das músicas escritas. Ser feliz no amor não gera muita inspiração.
Tenho que confessar que por alguma razão muito confusa eu não experienciei muitas fossas na minha vida. E por isso nunca pude cantar junto com as letras meladas de músicas de fossa. E mesmo quando passei por coisas assim, não tive claridade no pensamento o suficiente para enxergar algumas músicas perfeitas para a ocasião.
E justamente agora, para onde quer que eu olhe vejo fossa em minha frente. Não minha, mas das pessoas a minha volta. Fossas deprimidas, contidas, disfarçadas, negadas. Cada um desenvolve o chororô de alguma maneira. Fossa não escolhe sexo, cor, religião ou preferencia sexual. É igual em todos os povos e culturas. Por isso resolvi desenterrar alguns clássicos da música piegas que fariam a trilha sonora universal para todas as fossas no mundo. Já prepare seu compartilhador de arquivos para a busca. Em algum momento, você vai precisar dessas músicas...
1. Total Eclipse Of The Heart by Bonnie Tyler
Seja na versão original, ou na versão putz-putz que rola nas baladas, todo mundo sente o coração tremer quando escuta "Once upon a time I was falling in love But now I'm only falling apart..."
2.Take a Bow by Madonna
Essa é mais popular entre as meninas que cresceram ouvindo Madonna nas rádios. Mas pode ser substituída igualmente por You'll See, porque as duas tem aquela coisa de "ah, eu te amava mas você é um idiota!"
3.It must have been love by Roxette
Tem coisa mais "eu fudi tudo e te quero de volta" do que Roxette? Mas se o caso for "Ele fudeu tudo mas eu o quero de volta", a canção é Spending My Time.
4. You were meant for my by Jewel
Sabe aquele momento em que você decide sair de casa e deixar toda a fossa pra trás, mas na primeira esquina você desaba? Pois é...corra pra casa e cante junto com a Jewel.
5. Nothing compares to you by Sinead O'Connor
Ela rasgou a foto do Papa. Culpa de quem? Da fossa! Claro! Nessa música ela faz de tudo e mesmo assim nada se compara a ficar com o babaca que a deixou pra trás.
6. With or Without You by U2
Quem disse que meninos não choram?
7. Picture by Kid Rock and Sheryl Crow
Fossa dupla. Pra nos lembrar que a fossa vai pros dois lados.
8.Você não me ensinou a te esquecer by Caetano
Recomendada apenas para casos muito desesperados. E apenas no fone de ouvido. Essa parte da sua fossa não deve ser compartilhada com os vizinhos.
9.Labour of Love by Frente
Essa é para casos de fossa mais fracos. Em doses moderadas.
10. Dont Speak by No Doubt
Especialmente para os momentos de socar a parede e rasgar fotos e cartas.

Eu sei, eu sei, faltou o clássico "Desculpe mas eu vou chorar", mas essa é só para casos extremos de "ele me largou por outro cara, fugiu com meu dinheiro e meus vestidos".

Sugestões de outras músicas e histórias de fossas cantadas são bem vindas.